domingo, 20 de agosto de 2017

O encontro da Alegria com a Tristeza.

O encontro da Alegria com a Tristeza.
                                      José Antonio Altmayer
                   (história de João e Maria)
Neste texto, tanta Alegria como Tristeza são denominações geográficas e não estado de espírito. Refiro-me à praia da Alegria e à da Tristeza.
Estão localizadas frente a frente, separadas por um lençol de água imenso, ficando a Alegria em Guaíba e a Tristeza em Porto Alegre. São bairros destas cidades, com praias sobre o rio. Pois bem, na Tristeza vivia o João e na Alegria vivia a Maria. Cada um deles numa chácara cheia de irmãos e árvores frutíferas, belas flores e orquídeas diversas.
A casa do João ficava no alto do morro, de onde desde cedo ele sonhava cruzar o rio e alcançar a outra margem, curiosidade de guri e espírito de aventura.
A de Maria era mais afastada, porém por caminhos abertos na mata densa ela alcançava uma pedra enorme, já dentro do rio. E de lá, também desde cedo, lançava olhares para o outro lado, olhares de criança curiosa e mais tarde de menina-moça sonhadora.
João, dotado de espírito prático e empreendedor, construiu um pequeno barco a remo, que depois foi dotado de uma vela e começou a navegar pelas águas nem sempre calmas do Guaíba. E o olhar sempre na outra margem, atraído pelo desafio de cruzar aquilo que em sua imaginação era um oceano e do outro lado descobrir novas terras.
Enquanto isso Maria, sentada na pedra sobre o rio, contemplava as águas e imaginava um príncipe chegando numa linda caravela e a convidando para partirem numa longa viagem.
Chegou o dia em que João decidiu que era a hora de cruzar o rio. Já adquirira muita prática no manejo de seu tosco barco, era jovem, forte, belo e destemido e suas horas de folga, (estudava medicina), eram dedicadas sempre ao barco e ao rio. Num domingo de céu azul e vento calmo logo após a missa, desceu a encosta da chácara e fez-se ao mar, um mar de água doce e amarelada, mesmo assim o seu mar.
De cima da pedra Maria viu que uma vela branca se aproximava, pequeno barco entre tantos que já vira por aqueles lados. No entanto seu coração bateu diferente naquele dia e ao olhar o barquinho enxergou uma caravela e ao leme um príncipe.
João conduziu sua embarcação com perícia até junto à praia. Havia divisado sobre aquela pedra uma bela jovem, de cabelos ao vento e também seu coração bateu diferente.
Olharam-se de longe, coraram cada um de seu canto, e sem ao menos um aceno voltaram para suas casas.Mas havia acontecido o primeiro dos tantos contatos que se seguiriam.
Durante a semana Maria contava os minutos para que chegasse o domingo seguinte, tal era sua certeza de que seu príncipe voltaria. E João perdera o sono, numa semana febril de preparativos para a velejada do reencontro. Tinha também ele a certeza que a bela sobre a pedra estaria lá, cabelos aos ventos e sorrindo. E assim foi. Desta vez além de se olharem, trocaram também algumas palavras, o suficiente para que um soubesse o nome do outro. E desta forma os sonhos da semana teriam nomes próprios. E os encontros se seguiram, ela ansiosa sobre a pedra e ele soprando a vela para que fosse mais rápida a travessia. Agora as conversas se prolongavam, as mãos se tocavam de leve e a hora da despedida já permitia um breve beijo. Este beijo selou o encontro entre a Alegria e a Tristeza.
João e Maria casaram em 1941, num ano em que o rio que os unira trasbordou de alegria, na maior enchente do século passado. Vieram morar em Rio Grande, pois João se apaixonara pela geografia da região, numa viagem que fizera de barco alguns anos antes.
 Chegaram no Jenny Naval, navio que fazia a ligação de Porto Alegre com Rio Grande. E por aqui navegaram muitos anos juntos.Tiveram quatro filhos, nove netos e nove bisnetos. João partiu mais cedo.Maria ficou até que no dia 2  de fevereiro  de 2004, o João veio buscá-la  novamente, numa caravela de nuvens, significativamente no dia de N.S. dos Navegantes.
Assim, de uma maneira sucinta, faço o resumo de uma grande história de amor, da qual sou fruto e disso muito me orgulho.
João era na verdade João Hugo e Maria era Lourdes Maria, que unidos na alegria e na tristeza, viveram um grande amor até que a morte os separou e por fim tornou a reuni-los.



4 comentários:

  1. Muito lindo este conto de nossos pais...eu me emociono cada vezvque leio. Parabéns mano!

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  2. Que lindo. Comovente. Simples como deve ser o amor.⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️❤️

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  3. Obrigado Suzy e Julia! Um beijo nas duas

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  4. Amor, encontro, saudade, lembranças... é muita coisa boa em um texto só!

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