Minha paixão por churros iniciou na
infância com meus irmãos e primas na barraquinha de Tramandaí, ao final da
fila, lá estava a Vó Olga, a responsável pelo pagamento da conta. Naquela época
não existia churros gourmet, a escolha era entre os dois recheios: doce de
leite ou creme. Nunca hesitei, meu sabor era sempre o mesmo e permanece até
hoje: doce de leite! Para minha sorte, porque de creme nem existe mais!
Já da goiaba, tinha esquecido o
sabor, fazia muito tempo que não comia, para ser mais exata quase quarenta
anos. Outro dia, as goiabas me acenaram no buffet de um restaurante e resolvi
dar uma chance a elas. Na verdade é uma fruta bonita, cor e aroma atrativos. Ao
sentar, minha primeira garfada foi num pedaço bonito da fruta, mordi cheia de
expectativa e me decepcionei.
Diferente do churros que sempre me
faz viajar no tempo e voltar para a fila na barraquinha de Tramandaí (parece
até que o abraço da vó Olga vem junto no recheio do doce de leite), por isso
não posso passar na esquina da Andradas com o Calçadão, pela barraquinha do Tio
Vovô, porque, algo mais forte do que eu, me conduz à fila e, quando me dou
conta, já estou com o churros na mão. Ainda bem que moro no Cassino, pois se
morasse no centro, com certeza, estaria acima do peso!
Voltando às goiabas, lembro da tarde
em que passei com minha prima, na casa dela, comendo a fruta uma atrás da
outra, colhendo direto da árvore, quente do sol e sem lavar. Tínhamos uns oito
anos, estávamos sozinhas e passamos a tarde comendo goiabas doces. Hoje fico
tentando calcular quantos bichinhos nós devoramos sem perceber. O resultado
veio a seguir, passei muito mal e desde então nunca mais tinha comido goiaba.
Dei chance no restaurante faz alguns dias, mas penso ter criado uma espécie de
bloqueio com a fruta.
Se o churros faz
parte da minha memória de infância, da doçura, que também era a da minha avó; a
goiaba me faz lembrar apenas do quanto passei mal, razão pela qual esqueci até
o sabor. E isso de apagamento de memória pode ser sério! Um
amigo vai casar, meu marido e eu seremos padrinhos, papel que também
desempenhamos no primeiro casamento dele. Outro dia, o tal noivo comentou não
lembrar nada sobre a cerimônia do primeiro casamento, sofreu um apagão total. O
amargo foi esquecido, então, querido amigo, desejo a você um segundo casamento
doce e merecedor de permanecer em sua memória para todo o sempre.
E ficam as dicas: sempre
lavem a goiaba antes de comer, acreditem casamento pode ser doce e inesquecível!
E vida longa ao
churros do Tio Vovô! E não é à toa que tem este nome, porque os vovôs e as
vovós sempre são pura doçura!
Joselma
Noal