terça-feira, 19 de setembro de 2017

Pelas letras

Foram chegando devagarinho
Com ganas de escrever
Poucos com experiência
Mas todos com paixão
Pelas letras
Pelas histórias
Como fazer para tirá-las
Lá de dentro
Suas ou ficção
Escolher o personagem
Fazer a ficha
Para descrevê-lo
Situá-lo no tempo e no espaço
Homem, mulher, criança, animal ou objeto
Primeira pessoa ou terceira
Narrador direto ou indireto
A cada encontro as dúvidas eram tiradas
E a maravilha aconteceu

Escreveram um livro

Eliane Macedo

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Sobre Churros e Goiabas


            Minha paixão por churros iniciou na infância com meus irmãos e primas na barraquinha de Tramandaí, ao final da fila, lá estava a Vó Olga, a responsável pelo pagamento da conta. Naquela época não existia churros gourmet, a escolha era entre os dois recheios: doce de leite ou creme. Nunca hesitei, meu sabor era sempre o mesmo e permanece até hoje: doce de leite! Para minha sorte, porque de creme nem existe mais!
            Já da goiaba, tinha esquecido o sabor, fazia muito tempo que não comia, para ser mais exata quase quarenta anos. Outro dia, as goiabas me acenaram no buffet de um restaurante e resolvi dar uma chance a elas. Na verdade é uma fruta bonita, cor e aroma atrativos. Ao sentar, minha primeira garfada foi num pedaço bonito da fruta, mordi cheia de expectativa e me decepcionei.
            Diferente do churros que sempre me faz viajar no tempo e voltar para a fila na barraquinha de Tramandaí (parece até que o abraço da vó Olga vem junto no recheio do doce de leite), por isso não posso passar na esquina da Andradas com o Calçadão, pela barraquinha do Tio Vovô, porque, algo mais forte do que eu, me conduz à fila e, quando me dou conta, já estou com o churros na mão. Ainda bem que moro no Cassino, pois se morasse no centro, com certeza, estaria acima do peso!
            Voltando às goiabas, lembro da tarde em que passei com minha prima, na casa dela, comendo a fruta uma atrás da outra, colhendo direto da árvore, quente do sol e sem lavar. Tínhamos uns oito anos, estávamos sozinhas e passamos a tarde comendo goiabas doces. Hoje fico tentando calcular quantos bichinhos nós devoramos sem perceber. O resultado veio a seguir, passei muito mal e desde então nunca mais tinha comido goiaba. Dei chance no restaurante faz alguns dias, mas penso ter criado uma espécie de bloqueio com a fruta.
Se o churros faz parte da minha memória de infância, da doçura, que também era a da minha avó; a goiaba me faz lembrar apenas do quanto passei mal, razão pela qual esqueci até o sabor. E isso de apagamento de memória pode ser sério! Um amigo vai casar, meu marido e eu seremos padrinhos, papel que também desempenhamos no primeiro casamento dele. Outro dia, o tal noivo comentou não lembrar nada sobre a cerimônia do primeiro casamento, sofreu um apagão total. O amargo foi esquecido, então, querido amigo, desejo a você um segundo casamento doce e merecedor de permanecer em sua memória para todo o sempre.
E ficam as dicas: sempre lavem a goiaba antes de comer, acreditem casamento pode ser doce e inesquecível!
E vida longa ao churros do Tio Vovô! E não é à toa que tem este nome, porque os vovôs e as vovós sempre são pura doçura!


Joselma Noal

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O amor começa





O amor começa. Ao amanhecer, da doce amizade de infância. No entardecer, da incontrolável paixão adolescente. No anoitecer, da plenitude da maturidade. À primeira vista ou à milésima. Arrebatadoramente, assim como quem dá um pontapé na porta; ou vai abrindo-a bem lentamente e entrando, pedindo licença e até mesmo desculpas. Da convivência harmoniosa, ou não. Da orfandade da solidão. Do desfastio em encantar-se pelo outro. Com um friozinho na barriga.  Com o coração acelerado. Ao sentir o cheiro; ouvir a voz. Num abraço apertado. Até num ciúme desmedido. Nas redes sociais. No cinema. Aqui, ali, numa viagem a outro bairro ou à Paris. Num coraçãozinho batendo dentro do ventre de sua mãe, ansiosa em tê-lo nos braços. Ao misturar as cores de dois corações. No lugar que o coração encontrou sossego. Da paz emergente de seu próprio reflexo no espelho e do interior de sua alma. Daquela companhia agradável que ajuda a passar os dias ruins. Os bons também. Do nervosismo e ansiedade do primeiro encontro. Da mão no queixo ao contemplar quão especial ela é e quão idiota ele foi ao deixá-la partir.  Da concordância, bem como da discordância também. Do que restou após virem à tona todos os defeitos. Da demonstração do que há de mais adorável em nós. Do mistério de um dia cinzento; da alegria de um dia ensolarado. Da certeza de que existe esperança depois da tempestade. Contra todas as possibilidades e explicações, o amor apenas nasce. De infinitas formas e sem marco inicial. Talvez nem haja palavras para descrevê-lo. É o maior vislumbre de Deus, assim como Ele, não se vê, apenas se sente. Drummond já dizia: Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis. O amor acontece; e isso é tudo que se sabe. Nem que seja para morrer ali, na próxima esquina. E renascer, das cinzas; mais forte, infinito como só o amor consegue ser.


K.V.França