O amor começa. Ao
amanhecer, da doce amizade de infância. No entardecer, da incontrolável paixão
adolescente. No anoitecer, da plenitude da maturidade. À primeira vista ou à
milésima. Arrebatadoramente, assim como quem dá um pontapé na porta; ou vai abrindo-a
bem lentamente e entrando, pedindo licença e até mesmo desculpas. Da
convivência harmoniosa, ou não. Da orfandade da solidão. Do desfastio em encantar-se
pelo outro. Com um friozinho na barriga. Com o coração acelerado. Ao sentir o cheiro; ouvir
a voz. Num abraço apertado. Até num ciúme desmedido. Nas redes sociais. No
cinema. Aqui, ali, numa viagem a outro bairro ou à Paris. Num coraçãozinho
batendo dentro do ventre de sua mãe, ansiosa em tê-lo nos braços. Ao misturar
as cores de dois corações. No lugar que o coração encontrou sossego. Da paz
emergente de seu próprio reflexo no espelho e do interior de sua alma. Daquela
companhia agradável que ajuda a passar os dias ruins. Os bons também. Do nervosismo
e ansiedade do primeiro encontro. Da mão no queixo ao contemplar quão especial
ela é e quão idiota ele foi ao deixá-la partir. Da concordância, bem como da discordância
também. Do que restou após virem à tona todos os defeitos. Da demonstração do
que há de mais adorável em nós. Do mistério de um dia cinzento; da alegria de
um dia ensolarado. Da certeza de que existe esperança depois da tempestade. Contra
todas as possibilidades e explicações, o amor apenas nasce. De infinitas formas
e sem marco inicial. Talvez nem haja palavras para descrevê-lo. É o maior
vislumbre de Deus, assim como Ele, não se vê, apenas se sente. Drummond já
dizia: Se você sabe explicar o que sente,
não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis. O amor acontece;
e isso é tudo que se sabe. Nem que seja para morrer ali, na próxima esquina. E
renascer, das cinzas; mais forte, infinito como só o amor consegue ser.
K.V.França
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