sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O amor começa





O amor começa. Ao amanhecer, da doce amizade de infância. No entardecer, da incontrolável paixão adolescente. No anoitecer, da plenitude da maturidade. À primeira vista ou à milésima. Arrebatadoramente, assim como quem dá um pontapé na porta; ou vai abrindo-a bem lentamente e entrando, pedindo licença e até mesmo desculpas. Da convivência harmoniosa, ou não. Da orfandade da solidão. Do desfastio em encantar-se pelo outro. Com um friozinho na barriga.  Com o coração acelerado. Ao sentir o cheiro; ouvir a voz. Num abraço apertado. Até num ciúme desmedido. Nas redes sociais. No cinema. Aqui, ali, numa viagem a outro bairro ou à Paris. Num coraçãozinho batendo dentro do ventre de sua mãe, ansiosa em tê-lo nos braços. Ao misturar as cores de dois corações. No lugar que o coração encontrou sossego. Da paz emergente de seu próprio reflexo no espelho e do interior de sua alma. Daquela companhia agradável que ajuda a passar os dias ruins. Os bons também. Do nervosismo e ansiedade do primeiro encontro. Da mão no queixo ao contemplar quão especial ela é e quão idiota ele foi ao deixá-la partir.  Da concordância, bem como da discordância também. Do que restou após virem à tona todos os defeitos. Da demonstração do que há de mais adorável em nós. Do mistério de um dia cinzento; da alegria de um dia ensolarado. Da certeza de que existe esperança depois da tempestade. Contra todas as possibilidades e explicações, o amor apenas nasce. De infinitas formas e sem marco inicial. Talvez nem haja palavras para descrevê-lo. É o maior vislumbre de Deus, assim como Ele, não se vê, apenas se sente. Drummond já dizia: Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis. O amor acontece; e isso é tudo que se sabe. Nem que seja para morrer ali, na próxima esquina. E renascer, das cinzas; mais forte, infinito como só o amor consegue ser.


K.V.França





Nenhum comentário:

Postar um comentário