Estamos todos bem e cada um na sua!
Assisti a um filme outro dia, meio por acaso zapeando, gostei do título, li as informações, tive a certeza (e não me enganei) de que iria me emocionar. "Estão todos bem" se chama a co-produção Itália - EUA, 2009, direção de Kirk Jones e no elenco Robert De Niro.
Não
vou contar todo o filme, só traçar rapidamente o fio da história.. Robert De
Niro atua de modo brilhante como sempre, na pele de um aposentado, recém viúvo
que busca reencontrar os quatro filhos espalhados por diferentes e distantes
cidades norte-americanas. O filme mostra as viagens do protagonista ao encontro
dos filhos, tem um ritmo lento, reflexivo, recheado de imagens poéticas,
diálogos e silêncios. Tem o tom que tanto aprecio no cinema europeu, lamento não
ser em italiano, para mim deixaria o filme um tanto mais dramático.
O
filme acompanha a tal visita surpresa do pai à residência dos filhos, que não
parece ser muito bem-vinda por parte das "crianças" como ele se refere à prole
adulta. Percebe-se que todos querem demonstrar que estão bem para o pai,
preocupado com a felicidade dos filhos, aí o título. Belas imagens em que
relembra os filhos pequenos e as conversas sobre a escolha profissional e o
futuro de cada um. O pai exigente quer que sejam todos artistas, estimula o
talento de cada um. E eles se tornam: músico, artista plástico, bailarina,
publicitária.
O
filme dá muito pano pra manga, por isto vou selecionar somente alguns, senão o
texto ultrapassará os caracteres e a paciência do prezado leitor. Os discursos
do pai com os filhos sobre a escolha profissional permeavam o papel social da
profissão a ser escolhida e não a felicidade ao executar determinadas tarefas
cotidianas. Claro, os pais sempre querem que os filhos sejam felizes (o que,
aliás, o protagonista pergunta a cada filho nesta visita surpresa), o que se
esquece é de perceber que a felicidade não é igual pra todo mundo e que uma
profissão de maior ou menor prestígio talvez não revele maior ou menor índice
de felicidade.
Outro
ponto importante é a preocupação excessiva dos filhos em demonstrar uma vida
falsa para o pai, aparentam algo que não são na verdade, tudo para preservar
uma imagem criada pelo pai e que desejam manter. Um jogo de inverdade para
assegurar uma vida feliz ou pelo menos dentro dos moldes que o pai julga como
feliz.
A
verdade é esta, no filme e na vida: nós, na posição de filhos, queremos ser
felizes para dizer aos nossos pais que a vida está ótima e que eles não geraram
um bando de inúteis, que podem se orgulhar de nossos feitos. Nós, na posição de
pais, cobramos uma felicidade idealizada com a profissão que sonhamos e com o
futuro traçado por nossos esboços e não pelos de nossos filhos que podem ter um
traço muito diferente do considerado ideal e que por vias meio-tortas os podem
levar a felicidade.
Então
tá, registrada minha dica de filme e minha ínfima reflexão sobre a felicidade
de cada um.
Joselma Noal